Dr Eduardo Tiburcio – Medicina de Família

Ansiedade pode ser uma reação natural a situações de estresse, mas também pode caracterizar o transtorno mais comum de saúde mental. Como fazer a diferença? Dr. Eduardo Tiburcio é médico de família, especialista nos problemas de saúde mais comuns e tem muita experiência no tratamento da ansiedade.

O que é ansiedade?

ansiedade

Junto com a depressão e a somatização (sintomas físicos sem uma causa orgânica que os justifique), a ansiedade compõe a tríade dos sofrimentos mentais comuns.

Transtornos ansiosos são o tipo mais comum de problema de saúde mental, afetando mais de 300 milhões de pessoas no mundo em 2019, segundo a OMS.

Muitas vezes ela anda junto com a depressão, então, não se assuste se alguns pontos forem repetidos nos dois artigos.

Qual médico cuida da ansiedade?

O médico de família cuida de todas as pessoas, em todas as faixas etárias, sendo especialista nos problemas de saúde mais comuns, como a ansiedade, que é um dos sofrimentos mentais comuns.

Dr. Eduardo Tiburcio é médico de família no Rio de Janeiro formado pela UFRJ e tem vários anos de experiência no tratamento da ansiedade.

médico ansiedade

Na medicina de família, buscamos entender os valores principais do paciente para propor um cuidado específico às suas necessidades.

Isso é fundamental no tratamento da ansiedade, pois veremos que ele envolve muito além do que só tomar remédio.

Assim, entender os valores de cada pessoa é fundamental para que se possa reconhecer a validade do sofrimento mental e buscar o melhor acolhimento possível.

Atenção aos estigmas!

Hoje, vivemos uma “epidemia da saúde mental” com muitas pessoas recebendo diagnósticos de depressão, ansiedade, TDAH, autismo, entre vários outros. É evidente que essas condições existem, estão crescendo e merecem atenção.

estigma ansiedade

Entretanto, precisamos ter muito cuidado com esses diagnósticos, pois eles trazem estigmas que podem colocar limitações adicionais às pessoas, que podem ser futuramente discriminadas ou sentirem-se incapazes, gerando, assim, sofrimento adicional!

Então, é importante saber que nenhum diagnóstico de saúde mental deve ser dado com uma única avaliação. É importante um acompanhamento longitudinal (ao longo do tempo) para se compreender muito bem cada caso e definir de fato o diagnóstico que é complexo.

Separar mente e corpo minimiza o sofrimento

Se por um lado o risco da estigmatização deve acender a luz amarela para o sobrediagnóstico (diagnóstico em excesso/além do real). Por outro lado, também não se pode tolerar a minimização do sofrimento mental, o qual é muitas vezes considerado “frescura”.

sofrimento ansiedade

Então, antes de entrarmos especificamente na ansiedade, acho muito importante falarmos dos sofrimentos mentais em geral.

Nossa cultura ocidental tradicionalmente separa mente e corpo como se fossem coisas totalmente a parte uma da outra.

Quem nunca ouviu alguém dizer (ou inclusive já não disse) que “fulano não tem nada, é tudo apenas psicológico”?

mente e corpo na ansiedade

Assim, será fundamental ir para além dessa visão míope, de modo a compreender que corpo e mente são parte de um todo integrado que nos constitui e nos produz como pessoas.

Mente e corpo se interrelacionam de modo que um afeta diretamente o outro tanto negativa quanto positivamente.

Cuidando de quem sofre

sofrimento por ansiedade

Em primeiro lugar, é preciso entender que existem pessoas que sofrem sem estarem doentes (enfermas) enquanto também tem aqueles que podem estar doentes (enfermos) e ainda assim não sofrerem.

O sofrimento, então, não necessariamente vem da doença, mas ele certamente pode causar adoecimento (a sensação de se sentir doente).

Assim, as pessoas procuram atendimento médico acima de tudo porque sofrem (e por isso podem se sentir doentes), mas não necessariamente por estarem doentes. Evidentemente que boa parte de fato também estará doente, mas, ainda assim, dificilmente a doença explicará todo o seu sofrimento!

Nesse contexto, os dois maiores desafios são:

  1. Aqueles que estão doente mas não sofrem: por exemplo, quem tem hipertensão e diabetes que são assintomáticos e, por isso, muitas vezes não se cuidam, levando a complicações sérias como infarto, AVC, etc. 
  2. Quem sofre sem estarem doente: são as pessoas responsáveis pela epidemia de “depressão” e “ansiedade”.

Atenção às aspas! Não estou dizendo que depressão e ansiedade não sejam doenças, mas a maioria das pessoas que sofrem por se sentirem deprimidas ou ansiosas não fecham seus critérios diagnósticos!

acolhimento da ansiedade

Essa noção é fundamental para que possamos acessar e acolher devidamente o sofrimento de quem procura um profissional da saúde, porém com o cuidado de se evitar o perigo dos diagnósticos excessivos!

O que causa ansiedade?

Primeiramente, é importante diferenciarmos o sentimento comum, normal e natural de ansiedade dos transtornos ansiosos.

medo e ansiedade

Medo e ansiedade: sentimentos normais

O medo é definido como a resposta emocional a uma ameaça iminente, seja ela real ou percebida. Por sua vez, a ansiedade é a antecipação de uma ameaça futura.

Em nossos corpos, esses dois sentimentos normais terão manifestações esperadas. Quando com medo temos um aumento da adrenalina em resposta ao estresse e estamos nos preparando para o estado de “luta ou fuga” – uma resposta biológica primitiva ao perigo.

Assim, percebemos pensamentos de perigo, coração acelerado, sudorese (suor).

A ansiedade, como uma antecipação ao perigo, gera um estado de alerta ou vigilância para o perigo futuro com comportamento de cautela ou esquiva e se associa com uma tensão muscular.

ansiedade e medo

O medo e a ansiedade deixam de ser adaptativos (adaptações normais do organismo à situações do ambiente) e passam a ser patológicos (transtornos) quando apresentam as seguintes características: 

  • Intensidade: ocorrem de forma excessiva em relação ao esperado.
  • Gatilhos desproporcionais: desencadeados por situações que não deveriam. 
  • Frequência: se tornam persistentes para além dos períodos apropriados.

Origem Multifatorial

A ansiedade, assim como a depressão, é um problema multifatorial, ou seja, não tem apenas uma causa, mas várias. Vai ser justamente a combinação de vários fatores que poderá desencadeá-la.

Assim, existem quatro eixos principais:

  1. Psicológico: pessoas ansiosas percebem situações de baixo risco como se fossem de alto risco.
  2. Biológico (bioquímica cerebral): ocorre uma superestimulação de circuitos cerebrais ativados por estímulos de medo/ansiedade. Esses circuitos podem ser inibidos pelo aumento do neurotransmissor (molécula de comunicação dos neurônios) serotonina.
  3. Ambiental/Social: pessoas expostas a grandes adversidades têm maior chance de terem transtornos ansiosos.
  4. Genético: estudos com gêmeos idênticos mostraram uma carga genética de até quase 50% para certos tipos de transtornos ansiosos.

No entanto, vale relembrar, novamente, a diferença entre sofrimento e doença. Como colocado, a maior parte das pessoas terá um sofrimento não explicado por doença ou pelo menos não totalmente explicado por ela.

Assim, é importante reforçar o papel do mecanismo social no sofrimento mental, o que de certa forma se expressa na diferença do acometimento segundo o gênero, por exemplo. Mulheres são afetadas cerca de duas vezes mais do que homens.

Definição, sintomas e diagnóstico de ansiedade

sintomas ansiedade

Existem diferentes subtipos de transtornos ansiosos:

  • Ansiedade de separação: mais comum em crianças e induzido pela separação de figuras de apego (geralmente os pais).
  • Mutismo seletivo: também mais comum em crianças que apresentam incapacidade de falar em situações sociais específicas nas quais se espera a comunicação oral (ex: escola) apesar da fala em outros contextos.
  • Fobia específica: desencadeada por várias situações específicas (animais, ambiente natural, sangue/injeção/ferimentos, etc) das quais a pessoa se esquiva.
  • Transtorno de ansiedade social (fobia social): a pessoa é temerosa, ansiosa ou evita situações sociais nas quais possa ser avaliada.
  • Transtorno de pânico: ataques de pânicos recorrentes e inesperados deixando a pessoa apreensiva com medo de sua repetição.
  • Agorafobia: apreensão e ansiedade desencadeados por pelo menos duas das seguintes situações – transporte público, espaços abertos, lugares fechados, ficar em fila ou meio de multidão (aglomerações), estar fora de casa sozinho.
  • Transtorno de ansiedade generalizada: ansiedade e preocupação persistentes e excessivas em vários domínios da vida com grande dificuldade de controlar.
  • Transtornos ansiosos secundários: sintomas de ansiedade desencadeados por outras doenças ou uso de medicamentos/drogas.

Entretanto, neste artigo abordarei com mais detalhes apenas os seus dois principais por serem os mais comuns: o transtorno de ansiedade generalizada (TAG) e o transtorno do pânico.

Depois, caracterizarei os sofrimentos mentais comuns que são ainda mais comuns, mas são sintomas que não fecham os critérios diagnósticos.

Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG)

ansiedade generalizada

O TAG pode iniciar ao longo de toda a vida, mas seu pico de início é no final da adolescência e início da vida adulta.

Em linhas gerais, se caracteriza por uma preocupação excessiva que ocorre na maioria dos dias nos últimos seis meses, causando sofrimento ou disfunção significativos.

Geralmente as preocupações excessivas são por questões pequenas que não deveriam ter tanta repercussão e são acompanhadas de sintomas somáticos (sintomas físicos sem explicação), levando a mudanças patológicas do comportamento.

Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 5ª edição (DSM-5), para caracterizar o diagnóstico de transtorno de ansiedade generalizada precisamos de:

  • Ansiedade ou preocupação excessivos na maioria dos dias durante os últimos 6 meses.
  • Dificuldade em controlar essa preocupação.
  • Pelo menos três dos seguintes sintomas na maioria dos dias nos últimos 6 meses (em crianças, apenas 1 sintoma é necessário):
  1. Inquietação ou sensação de tensão ou nervosismo (“nervos a flor da pele”).
  2. Sentir-se facilmente cansado/fadigado.
  3. Dificuldade de concentração ou sensação de “branco” na mente.
  4. Irritabilidade.
  5. Tensão muscular.
  6. Distúrbios do sono: dificuldade para iniciar ou manter o sono, sono inquieto/agitado, sono insatisfatório.
  • O conjunto de sintomas causa importante sofrimento ou disfunção social ou ocupacional ou em outra área relevante da vida.
  • O distúrbio não pode ser atribuído a outro problema de saúde (seja físico ou mental) ou ao uso de medicações ou substâncias (drogas).

Transtorno de Pânico

ansiedade e panico

A maioria dos casos de inicia entre 20 e 24 anos de idade, apesar de um pequeno número de casos poder iniciar na infância ou após os 45 anos, apesar de ser incomum.

O transtorno de pânico se caracteriza como ataques de pânico que incluem sintomas característicos sem um gatilho óbvio. Além disso, deve haver preocupação persistente por, pelo menos, um mês de ter novos ataques, o que pode levar a alterações de comportamento.

Também pelo DSM-5, temos como critérios diagnósticos:

Ataques de pânico inesperados e recorrentes. Considera-se como ataque de pânico uma onda abrupta de medo intenso ou intenso desconforto que atinge seu pico máximo em minutos e durante o qual ocorrem pelo menos 4 dos seguintes sintomas:

  1. Palpitações, taquicardia ou coração acelerado (muitas vezes “saindo pela boca”).
  2. Sudorese.
  3. Tremores.
  4. Sensação de falta de ar ou sufocamento.
  5. Sensação de asfixia.
  6. Dor ou desconforto no peito.
  7. Náusea/enjôo ou dor/desconforto abdominal.
  8. Sensação de tontura, desequilíbrio/instabilidade ou desmaio.
  9. Calafrios ou ondas de calor.
  10. Sensação de dormência ou formigamento (geralmente em extremidades).
  11. Sensação de estar fora da realidade ou despersonalizado (fora de si ou destacado/separado de si).
  12. Medo de perder o controle ou ficar louco.
  13. Medo de morrer ou sensação de morte iminente.

(Nota: esses sintomas podem iniciar de um momento de calmaria ou ansiedade e existem outros sintomas comuns de acordo com questões culturais mas que não são critérios diagnósticos como – zumbido, dor na nuca, dor de cabeça, gritos ou choro incontrolável)

Pelo menos um dos ataques deve ser seguido por pelo menos 1 mês de preocupação persistente por, pelo menos, um dos seguintes motivos:

  • Novos ataques de pânico ou suas consequências (perder o controle, ter um ataque cardíaco ou enlouquecer).
  • Mudança comportamental negativa por conta do ataque (ex: comportamento evitativo de coisas/situações que ache que possa desencadear novo ataque).

Além disso, o distúrbio não pode ser atribuído a outro problema de saúde (seja físico ou mental) ou ao uso de medicações ou substâncias (drogas).

Sofrimentos Mentais Comuns

sofrimento ansiedade

Como venho batendo na mesma tecla ao longo de todo o artigo e como pode ser visto pelos longos critérios diagnósticos, muitas pessoas vão sofrer sem terem todos os critérios diagnósticos das doenças e isso não é justificativa para não serem devidamente cuidadas.

No consultório do médico de família, como atendemos as condições mais comuns de toda a população, essa situação se fará mais presente do que “o paciente de livro” (que tem todos os critérios diagnósticos).

Assim, é muito comum atendermos pessoas com queixas de tristeza, desânimo, irritabilidade, perda de prazer pela vida, dificuldade de raciocínio ou concentração e ansiedade e medo que podem ocorrer como crises.

Muitas vezes, quem tem uma dessas queixas tem várias outras também. Além disso, essas pessoas também costumam ter alterações do sono e do apetite (para mais ou para menos), dores crônicas, difusas e inespecíficas, cansaço, coração acelerado, tontura e alterações gastrointestinais.

sintomas ansiedade

Todos esses sintomas são considerados como sintomas depressivos, ansiosos e de somatização (queixas físicas sem explicação médica/orgânica). 

Na maioria dos casos, as pessoas apresentam sintomas dos três tipos juntos alternando entre três momentos: de pouco ou nenhum sintoma; de sintomas pouco intensos (subclínicos); ou de sintomas intensos (que “fecham diagnóstico”).

apoio sofrimento ansiedade

Entretanto, lembre-se que o diagnóstico formal exige períodos constantes com intensidade suficiente para causar disfunção e sofrimento grandes, de modo que muita gente acaba ficando no meio do caminho.

Por isso, na Medicina de Família, trabalhamos frequentemente essas três categorias de sintomas (depressivos, ansiosos e de somatização) dentro de uma mesma síndrome de sofrimentos mentais comunsrespondendo aos sofrimentos mentais mais comuns com os devido respeito e acolhimento ainda que sem todos os critérios diagnósticos!

Complicações da ansiedade

complicações ansiedade

Os transtornos ansiosos são um dos maiores responsáveis por comprometimento funcional seja comprometendo a qualidade de execução das tarefas ou levando ao afastamento da escola e/ou trabalho. O que pode levar a abandono escolar ou desemprego.

Além disso, é relativamente comum que transtornos ansiosos sejam acompanhados de transtorno depressivo, caracterizando a síndrome ansiosa-depressiva.

Especificamente sobre o pânico, geralmente ele leva ao desenvolvimento da depressão e pode ainda complicar com transtorno de uso de substâncias (tanto álcool como medicamentos) em tentativa de “controlar a ansiedade”.

Finalmente, a complicação potencialmente mais grave do pânico é o risco aumentado de suicídio tanto para ideação quanto de tentativas.

Como evitar as complicações da ansiedade?

É fundamental tratar adequadamente a ansiedade para evitar suas complicações!

O médico de família cuida de todas as pessoas, em todas as faixas etárias, sendo especialista nos problemas de saúde mais comuns, como a ansiedade, que é um dos sofrimentos mentais comuns.

Dr. Eduardo Tiburcio é médico de família no Rio de Janeiro formado pela UFRJ e tem vários anos de experiência no tratamento da ansiedade.

médico ansiedade

Na medicina de família, buscamos entender os valores principais do paciente para propor um cuidado específico às suas necessidades.

Isso é fundamental no tratamento da ansiedade, pois veremos que ele envolve muito além do que só tomar remédio.

Assim, entender os valores de cada pessoa é fundamental para que se possa reconhecer a validade do sofrimento mental e buscar o melhor acolhimento possível.

Tratamento da ansiedade

tratamento ansiedade

Não existe uma única linha possível para o tratamento da ansiedade que pode ser tanto medicamentoso como não medicamentoso. 

A escolha de qual estratégia seguir pode se basear na intensidade/gravidade do quadro, no entanto, unir as duas abordagens, sem dúvida, promove uma otimização do tratamento.

Contudo, eu gosto sempre de ressaltar que não existe pílula mágica ou “solução fácil para problema difícil”! Então, acreditar que tomar um comprimido vai resolver todas as suas questões, geralmente, é enganar-se.

tratamento ansiedade

Inclusive porque, como colocado anteriormente, os fatores sociais são geralmente a causa mais comum de origem do sofrimento mental e nenhum remédio irá mudar um contexto social ou um padrão de relacionamento interpessoal disfuncional.

Assim, gosto sempre de ressaltar a tríade do tratamento em saúde mental reforçando a importância ainda maior das estratégias não medicamentosas: medicação, psicoterapia e atividade física.

Tratamento Não Medicamentoso – Psicoterapia

psicoterapia ansiedade

Existem várias linhas de terapia possíveis para o correto tratamento da ansiedade. É importante que isso seja definido em conjunto com o paciente de acordo com suas preferências e valores para devida vinculação com o terapeuta.

A  psicoterapia nos permite refletir sobre nós mesmos para identificarmos as causas e origens dos nossos sofrimentos. Isso favorece sua melhor compreensão e, assim, lidamos melhor com as nossas dores. 

Muitas pessoas resolvem o sofrimento apenas de entender a sua origem e serem capazes de conscientemente perceberem-se vivenciando suas situações gatilho. Para essas pessoas, a autopercepção é suficiente para quebrar o ciclo vicioso do sofrimento.

Outras pessoas, entendem muito bem de onde vem o sofrimento mas ainda assim ficam presas nesse ciclo vicioso, sendo necessárias abordagens psicoterápicas mais práticas que reflexivas para o desenvolvimento de habilidades que permitam a pessoa lidar de outra forma com o sofrimento.

terapia ansiedade

Gosto de ressaltar que vejo benefício em um acompanhamento psicoterápico regular para todas as pessoas independentemente da presença ou ausência de qualquer tipo de sofrimento mental.

Ainda que não esteja em sofrimento, percebo a psicoterapia como um exercício recorrente de autorreflexão e autoconhecimento. 

Desse modo, ela nos permite crescer constantemente como pessoas ao nos conhecermos melhor, ajudando a prevenir sofrimentos futuros e a melhorar nossa relação com o mundo em geral.

Tratamento Não Medicamentoso – Atividade Física

A atividade física regular é uma forma adicional de tratamento, pois aumenta a sensação de bem estar e alivia os sintomas de ansiedade.

Caso seja realizada ao ar livre é ainda mais recomendada pelos efeitos positivos da luz solar no humor.

Yoga e meditação tipo mindfulness (atenção plena) também reduzem os sintomas ansiosos e podem ser opções a se associar.

Manter um estilo de vida saudável em geral (alimentação adequada, consumo controlado de álcool e horas suficientes de sono) também melhoram o bem estar e podem ajudar.

Tratamento Medicamentoso

medicação ansiedade

Existem diversas medicações eficazes disponíveis para o tratamento da ansiedade, incluindo algumas opções naturais.

  • Antidepressivos: certamente a classe mais importante, pois aumentam os níveis de serotonina que, como mencionado anteriormente, inibe os circuitos cerebrais de medo e ansiedade que estão superativados.
  • Ansiolíticos (populares “calmantes”): têm o benefício de agirem rapidamente e tratarem os sintomas de ansiedade. No entanto, podem ser associados com sintomas de retirada, ansiedade de rebote e dependência em caso de uso prolongado. Assim, se possível, o ideal é serem evitados.
fitoterápico ansiedade

Fitoterápicos e Suplementos (em ordem de melhor evidência):

  1. Extrato de camomila e suplementação de magnésio: são bem tolerados e parecem ser efetivos, mas os estudos apresentam vieses.
  2. Extrato de lavanda: bem tolerado mas pode aumentar a sonolência se usado com outras medicações sedativas. Parece ser efetivo, mas os estudos apresentam vieses.
  3. Kawa kawa (Piper methysticum): baixo risco de toxicidade ao fígado e dor de cabeça, possível efeito parcial em comparação com placebo.

Dessa forma, precisamos sempre esclarecer sobre o mecanismo de ação e efeitos adversos possíveis para que a pessoa fique a vontade com o seu tratamento.

Assim, é importante que haja uma decisão compartilhada entre o  médico e o paciente para que o tratamento seja adaptável à vida da pessoa e nunca o contrário.

Prevenção da recorrência da ansiedade

Aproximadamente 16% dos pacientes em tratamento adequado com antidepressivos apresentaram recidiva dos sintomas de ansiedade.

prevenção ansiedade

Caso o tratamento seja descontinuado antes de 12 meses, essa taxa sobe para até 50% dos casos. Assim, manter o uso de antidepressivos por, pelo menos, 12 meses é a medida principal para evitar a recorrência dos sintomas.

Programas educacionais de técnica de enfrentamento mostraram algum benefício na prevenção dos transtornos de ansiedade.

Apesar de pouca evidência científica, a atividade física também pode ter algum benefício.

Da mesma forma que existem fatores de risco para ansiedade existem fatores de proteção, os quais podem ser estimulados na sua prevenção.

suporte para ansiedade

Dentre eles, destacam-se a autoestima e a presença de relacionamentos de qualidade. Autoestima elevada é um protetor do sofrimento mental comum, bem como a percepção de se ter pessoas com quem contar.

A psicoterapia ajuda as pessoas a reconhecer seu próprio valor, aumentando a autoestima, e a melhor visualizar sua rede de apoio. Assim, apesar de não haver uma evidência formal do seu papel na prevenção, ela pode ser potencialmente benéfica.

Conclusão

Todo sofrimento mental comum é resultado do impacto emocional em nossas vidas, das condições sociais, do temperamento individual, da história de vida e da rede de apoio.

Assim, para o adequado acompanhamento da ansiedade, é importante ter uma abordagem que reconheça e considere os valores individuais, ou seja, centrada na pessoa.

Tem ansiedade  ou ficou com mais alguma dúvida? Não deixe de marcar a sua consulta!

Gostou desse artigo e conhece alguém que pode se beneficiar dessas informações? Compartilhe!

A boa informação é sempre o melhor remédio!

Fontes e Leituras Complementares:

Sociedade Americana de Medicina de Família

Ministério da Saúde do Reino Unido

Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 5ª edição (DSM5)

Cadernos de Atenção Básica – Saúde Mental

Organização Mundial da Saúde (OMS)

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